Valdomiro Silveira (1873/1941)
Cartaz peça "Leréias" com Jandir Ferrari, música de Antônio Porto e Direção
de Caio de Andrade
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Creio que a maior riqueza de uma obra
seja a tradução da simplicidade. De dizer a coisa certa sem meias palavras e ir
direto ao ponto, nua e cruamente, sem rodeios. Colocar sentimentos num papel
para deixá-los eternos, interpretados, cantados ou rimados não é tarefa fácil.
Requer a lapidação de um dom, requer tempo e estudo. Um processo de tempo que é
engolido pela correria cotidiana e que nos faz ignorar por completo quem se
dedica a essa tarefa.
Valdomiro Silveira é um desses
escritores que usou seu tempo de vida na observação do Homem caipira, na sua forma
de falar, sua forma de interagir com a natureza e com as fronteiras do seu
mundo visível, com os sentimentos que ocupavam a cabeça e o faziam pensar
durante sua lida diária, com o trabalho pesado do homem da roça.
Nascido em Cachoeira Paulista,
criado em Casa Branca, todas no interior de São Paulo, terra dos caipiras e
suas peculiaridades. Suas observações no modo de vida, na fala, nos costumes,
despertaram nele o curioso trabalho de transcrever as ações dessas
pessoas simples. Simples sem ser
ingênuo, bobo ou preguiçoso. Simples na maneira de não fazer firulas para se
dizer o que se sente, muitas vezes comparando seus atos com os animais da
natureza que faziam parte do cenário natural a que pertencia. Filosoficamente
simples na busca da eterna resposta do Homem, de saber quem se é, para onde se
vai, onde se encontra.
O escritor cresceu, formou-se
advogado, depois foi promotor público, deputado, secretário de educação do
estado de São Paulo e jornalista. Um homem das letras, de suas observações que
nunca abandonaram o homem simples da sua origem, o matuto, o caipira da sua
raiz e sua linguagem. Sua obra o aproxima de Guimarães Rosa, que também
descreve a vida do homem que não habita a cidade.
Os contos de Valdomiro, abordando
os costumes e tradições desse povo, muito contribuíram para o folclore
brasileiro. Revisitado em sua obra póstuma, "Leréias", foi levada ao palco mesclando
no cenário a simplicidade do homem caipira e o essencial para existir com a
riqueza de suas falas, de seus pensamentos, a graça da simplicidade, a suavidade
da música pontuada pelo violão caipira.
Leréias mostra que o Homem é o mesmo em
qualquer lugar sobre a face da Terra, com seus medos, coragem, culpa, anseios,
desejos, frustrações, raiva e todos os outros sentimentos inerentes ao ser
humano, porém falado em outro "idioma", com outras referências ricas e que nos
pertencem!
Uma peça que vale a pena
conferir! Que nada tem de lorota, pode acreditar!
Nos vemos, nos lemos!