O novo governo em exercício, tem a missão, nada fácil, de desatar uma série de nós de rabos presos e colocar esse imenso comboio nos trilhos.
Há quem
pense que o novo governo vai usar o pó de Pirlimpimpim e transformar tudo do
dia prá noite. A realidade é mais dura. As ações demandam tempo para se
concretizarem e contam com o peso morto da burocracia que atrasa os
passos desse andamento.
Num estudo
intitulado Perils of Perception (Perigos da Percepção) feito em 33 países,
ficamos com o nada honroso 3º lugar nessa modalidade, uma medalha de bronze. Um povo que menos
conhece sua realidade. Perdemos para México e Índia. Eu mesmo respondi o quiz e
fiz 7/10 e me achei péssimo. Deveria ter acertado tudo sobre meu País.
Por que
mencionei isso?
Porque
uma das metas do novo governo acaba com MinC e o atrela ao Ministério da
Educação. Vira Departamento. Não falo por perder o status de ministério. Falo
pela autonomia de poder gerenciar livremente uma pasta que é muito extensa com
muitas possibilidades frutíferas.
A maioria dos
Ministérios não estão nadando de braçada e vemos suas reservas escorrendo por
gretas obscuras da corrupção e pararem em paraísos fiscais em um escândalo atrás do outro. A Educação à beira da sua reprovação, o Esporte contundido, da mesma forma como a Saúde busca
sobrevivência na UTI, afetada pelo mesmo câncer da corrupção. Partes de
uma engrenagem que parecem ser montadas para engripar.
Cultura
também educa, há de se lembrar! Infelizmente é tratada como supérfulo, como
luxo, seja em que esfera for. Os orçamentos são pífios, o orçamento desse
Ministério equivale a apenas 0,38% do orçamento federal, proporcionalmente, distribuídos
com estados e municípios.
Na Cultura,
leis (federais, estaduais e municipais) permitem que sejam captados com empresas,
recursos capazes de criação, fomento, divulgação das formas de cultura em todas
as suas expressões (canto, dança, teatro, circo, cinema literatura, música, artesanato,
fotografia, bens materiais e imateriais, gastronomia, entre tantas outras e
suas muitas ramificações). Aquilo que é a nossa identidade! Nossa foto de cara limpa! Nossa pluralidade, fruto de uma grande miscigenação, gigante pela própria natureza,
onde o regionalismo dita o sotaque, os costumes, as tradições, as manifestações
de sua religiosidade, do paganismo, do empirismo, da linguagem, do comportamento
e também das reações destes frente às mudanças que os afetam diretamente.
Incentivar
artistas e programas que possam levar alguma arte às pessoas, onde quer que elas estejam, fazendo com
que experimentem sensações diferentes e saudáveis de novas possibilidades,
opostas à crueza da dominação social que vivem forçada e imperativamente, que
em muitos casos apontam saídas por frestas obscuras e marginalizadas, expondo
fragilidades e formas de violência. Possibilitar que as formas de arte permeiem
os mais distintos vãos da sociedade e agucem vontades e curiosidades de outras
tantas pessoas e assim multiplicá-las, proporcionando mais cultura, mais
educação, mais trabalho, mais saúde mental (que reflete no corpo), criação e
qualificação de mão de obra específica, ampliação de horizontes, entre outros
infinitos benefícios. Todo
trabalho é digno!
Há de se
entender que o que se obtém com recursos como a Lei Rouanet (federal), Proac
(estadual) e outros programas (federais, estaduais ou municipais) de incentivo
à cultura, são recursos autorizados por lei, de uma parcela dos impostos
devidos que são direcionados para atividades culturais através de projetos
aprovados e que têm por obrigatoriedade a prestação de contas junto à(s) empresa(s)
de onde o recurso foi originado.
Não é do
bolso do governo que sai. Aliás, nem entra! É substituído por documentos que
comprovam o uso daquele X valor em alguma atividade cultural, esportiva ou
outra que seja embasada na sua respectiva lei de incentivo. Sai do patrocinador
que presta a sua parcela de conta ao governo desde que o montante cedido para o
programa cultural esteja de acordo com uma série de itens obrigatórios de
prestação de contas, caso contrário há severas punições legais. Não é fácil gerenciar
isso tudo como produtor cultural. Os valores altos de produções milionárias,
por exemplo, não são captados de uma única vez. São captados em parcelas e cada
parcela subsequente só é liberada mediante a aprovação da prestação de contas
anterior. Caso contrário, o projeto fica sem verba. É a lei.
Vale
lembrar que quando se faz uma planilha de projeção de gastos de uma produção, um rol enorme
de itens são relacionados e seus gastos computados para que se possa fazer uma
programação desse dinheiro e permitir que seja viável. Inclui-se aí, entre
centenas de fatores: cachê de todos os profissionais envolvidos na produção do
espetáculo (artista(s), técnicos, cabeleireiro, maquiagem, costureiros, cenografia,
cenógrafos, contrarregras, músicos, dançarinos, artista convidado, etc.) mais transporte,
hospedagem, alimentação, brindes, vestuário, divulgação, propaganda (cartazes, flyers, internet, rádio, carro de som, tv), locação de alguns espaços (salas, teatros, ginásios,
etc.), entre tantos outros e alguns peculiares de cada forma de expressão.
Aqueles que
utilizam indevidamente os recursos é que devem ser banidos, que devem ser
fiscalizados, punidos na forma da lei e que devem repor o dinheiro obtido, seja
a quantia que for. Falo do ato e não do valor e/ou da proposta cultural usada
como pano de fundo dessas armações! A aplicação dessa lei deve ser
revista, melhor controlada, melhor aplicada, não extinta!
Vale
lembrar que os ministérios e sucessivamente as secretarias e departamentos
trabalham com verbas específicas. E por mais caótico que esteja o cenário atual,
é ilegal usar o recurso de uma pasta para cobrir necessidades de outra. São
pedaladas de alguma forma.
Isso derruba governos! Salvo se
houver alguma autorização legal, mediante a voto de Congresso, Senado e outras
instâncias que as aprovem. Parece que isso somente é permitido em caso de força
maior, grandes tragédias, guerra, etc.
Por outro
lado, há de se entender que pagamos muitos impostos e não vemos retorno de suas aplicações!
Toda
mudança pressupõe mudanças. Mudança não é vestir um santo e desvestir outro.
Como num jogo de xadrez, é alterar a estratégia para um bom resultado com a
menor perda possível. Guardadas as devidas proporções e comparações ao jogo, a
cultura de um País não é um mero peão e sim um bispo, uma torre, um cavalo, uma
rainha, uma peça de maior importância nesse imenso tabuleiro.
Triste ver
que tais manifestações vêm de pessoas onde se imagina haver um pouco mais de
coerência, de discernimento. Que nas esferas onde essas decisões são tomadas,
tal desmatamento cultural é visto como gesto heroico, nobre. Triste e
lamentável ver pessoas, com discursos exageradamente retóricos, aplaudindo, ações
de cerceamento.
Não vejo
nenhuma mobilização nacional da população que queira isso o bem comum e sim
confronto de ideias divergentes, mal fundamentadas! Cada um prá si!
Oba-oba e carnaval.
Eu sou a
favor de um melhor lugar para se viver, de um País com futuro, soberano, cidadão,
onde eu e você possamos ser representados por qualquer indivíduo, seja homem,
mulher, da cor da pele que for, que seja digno, honesto, coerente por suas
ideias e qualidades e não pelas bandeiras e símbolos que são obrigados a
defender para poderem participar do banquete. Cidadãos sem se importar com
títulos e sim um real trabalho a ser feito, com propósito de crescimento e
melhoria. Sou a favor do compromisso, da honestidade.
Se
continuarmos sendo congenitamente corruptos, não alcançaremos êxito, nem na
continentalidade, nem no separatismo, nem no presidencialismo, nem no
parlamentarismo, nem na situação, nem na oposição. Muito menos batendo panelas
e fazendo arruaça! Seja lá identificado de qual salgadinho for!
* se quiser fazer o quiz, segue o link: https://www.ipsos-mori.com/_assets/sri/perils/quiz/
* imagem: mix de imagens de algumas formas de arte que representam a cultura em geral!