segunda-feira, 21 de dezembro de 2015
Queimando a Língua!
Não bastassem as agressões
cotidianas para com o idioma de Camões, em que se permite sucessivas e
agressivas licenças nem sempre poéticas ao nosso português, um dos idiomas mais
ricos do mundo e alto grau de dificuldade para ser aprendido, conforme algumas
estatísticas, ainda sofremos simbolicamente com um incêndio a um museu em sua
homenagem.
Justo numa semana conturbada em
que muito se badalou com a inauguração do Museu do Amanhã, no Rio de Janeiro,
cercado de protestos sobre o fechamento de outros doze museus da capital
carioca e o fechamento de institutos de saúde, um conjunto nada harmonioso de descaso
público, o estreitamento do acesso à cultura e à saúde pública, tragados pela lama das corrupções.
Nosso Museu da Língua Portuguesa
(sim, patrimônio de todos nós), situado no belíssimo prédio da Estação da Luz
em São Paulo (ao lado da Pinacoteca do Estado) arde em chamas. Um prejuízo não
só pela arquitetura centenária do prédio que ocupa ou pelas instalações
modernas desse museu em que palavras e sons cercam o espaço e flutuam
pelo ambiente provocando uma imersão total na riqueza da nossa língua. Perde-se,
pelo menos temporariamente, um forte elo que mostra, por diversos prismas, a
riqueza desse idioma incompreendido. Sim, o português é de fato um idioma que
requer um bom estudo para entendê-lo na sua totalidade.
Flexões que sugerem
longas reflexões. Conexões, às vezes, por caminhos mais longos, porém, com uma
facilidade poética de moldar palavras e permitir um caimento perfeito ao que se
refere. E isso também se perde. Os idiomas mudam num ritmo que acompanham o
desenvolvimento dos povos, as misturas, influências, passeiam por modismos, por
releituras. E a lavagem repetitiva dessa fina fazenda, esgarça e empobrece o
tecido, tornando-o roto. Da “vossa mercê” que virou “você”, que virou “cê” e já
se transmuta em “tu” sem a flexão correta.
Triste cena, triste ver o
alfabeto ardendo em chamas e palavras desconectas escapando pela fumaça. Que
sua recuperação seja rápida e que venha com mais força, venha moderna sem ser vazia,
rica sem ser fútil, que venha e se estabeleça e que nos dê voz e que possa ser
usada para expressar o que sentimos e somos!
*imagem: uol
3 comentários:
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Triste não se priorizar nosso maior património imaterial , nossa língua, nossa maneira singular de ver e traduzir o mundo.
ResponderExcluirTriste não se priorizar nosso maior património imaterial , nossa língua, nossa maneira singular de ver e traduzir o mundo.
ResponderExcluirA interdição segue na estação da Luz! Estudos são ainda feitos para analisar a estrutura do prédio. Um curto circuito pode ter iniciado tudo e ativa levou a vida de um bombeiro civil!
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