A série "Pé na Cova", exibida pela Rede Globo, criada por Miguel Falabella, conta com um grande e excelente elenco, fala de uma família do Irajá, subúrbio do Rio de Janeiro que são proprietários de uma funerária, a FUI, um negócio mal administrado a caminho da falência e que convivem com um grupo, um tanto quanto surreal de conhecidos e amigos, mas que se dissecando, conseguimos tirar características comuns e até mesmo pessoais de cada um deles. Para dar o tom no sense e humorístico, esses sentimentos são potencializados no sitcom.
No capítulo do dia 15/12/15 de Pé Na Cova, conta que o Ruço não viaja de avião por achar que o céu não é lugar
para ele, além de assuntos que se desenvolvem na trama. Apesar das cenas hilárias e dos personagens surreais da série, todos
têm sentimentos humanos (compaixão, amor, desejo, ódio, raiva, cobiça, inveja, carinho, afeto, etc.) que chegam a ser comoventes em alguns aspectos.
A
cena em que Ruço (Miguel Falabella) conversa com Darlene (Marília Pêra), no quarto, já no final de uma festa em que
ela revela que sabia que ele não pegou o avião, mostra uma relação muito curiosa.
O casal, separado, que ainda mantém uma cumplicidade dos anos em que viveram
juntos, mostra como se conhecem e se completam. É uma relação simples, de
respeito sem filosofar sobre respeito, de cumplicidade, sem ter noção do que se
divide, de falta de conhecimento, ajudando um ao outro com o pouco que cada um
tem.
A visão simples de Darlene diante da vida e a incongruência cognitiva do
Ruço tem seus momentos hilários (quando atribuem a Shakespeare toda e qualquer
frase pronta ou dito popular) e mostram que o complexo e o simples são lados da mesma moeda.
A cena é pequena e tocante, pois os olhos do casal falam por si (daí as grandes interpretações), pedem e oferecem a mão num momento de fraqueza de cada um.
Ela fugindo sempre, escoando as angústias e amarguras no gim e ele fantasiando e vendo lado bom de
tudo quando sua frustração se torna amarga. A fantasia pé no chão (e não na
cova) do Ruço para fugir da sua realidade busca caminhos leves para tornar o
fardo menos pesado, da mesma forma como ele fantasiou o que “viu” no céu
contando para Adenóide (Sabrina Korgut). Curioso como uma série de humor escrachado, de visão estilizada e crítica das mazelas da nossa vida pode ter momentos em que os
personagens se mostram tão reais, cheios de uma verdade simplista que nós
mesmos temos em nós e que muitas vezes escondemos ou maquiamos (em homenagem à Darlene)
por vergonha, defesa, por achar que o básico, o nu e cru não tem
importância.
Vive-se o pé no chão, que é o mais perto da cova. Os limiares!
Nos vemos, nos lemos!
*imagem: logo Pé na Cova
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