quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

Conto solto. Decadence avec elegance !

Três irmãos de uma grande família. Saíram juntos, pois a caçula estava com um trabalho temporário em uma cidade turística próxima e naquele dia o evento acabaria mais tarde que o normal. Combinaram de irem e voltarem juntos em função do horário. Um dia frio, tranquilo e de muitas caminhadas que a cidade sugere em suas visitas. 
Enquanto isso, a caçula em seu trabalho num stand de veículos importados na casa de alguns milhares de dólares. Expostos, esses carros atraem todo tipo de público com muitas dúvidas e pedidos de fotos. Na cidade, o vai e vem normal de um final de semana de frio na serra, com várias opções de alimentação e passeio. 
Depois de percorrem todo o centro, o bairro vizinho, visitarem o pico, teleférico, mirantes, de muita comida e chocolate, resolvem descansar numa das praças daquele movimentado centro.
A irmã mais velha reclama de dor nas pernas de tanta ladeira. O irmão do meio não sente tanto, mas agradece a pausa ali naquele lugar sob um sol fraco do meio tarde para relaxar. A irmã reclama que a bota recém comprada está pegando e machucando seus pés.  
Resolvem esticar por ali, tomar um café, fazer uma longa pausa observando o movimento, vendo apresentações de artistas de rua, vitrines próximas, feirinha de artesanato.
A noite cai junto com a temperatura e cidade perde alguns grupos de turistas de final de semana. No local dos stands, o movimento é bem menor e permite uma melhor circulação pelo local sem muito aperto ou vai e vem de multidão. Uma feira de muitos olhos e poucos bolsos, Objetos importados, de grife exclusiva, artigos inúteis para nosso tipo de clima. Uma mostra da riqueza e do luxo que existem no mundo. Grifes que brilham aos olhos dos consumidores. Marcadores de preços com números na casa de algumas centenas e milhares de reais e até mesmo euro e dólar.
A ambiente cria um ar blasé. Comentários não são feitos a fim de não causarem alguma cena engraçada ou expor ali a mediocridade da classe média achatada permitida por uma estabilidade financeira de ordem política. Os poucos comentários perceptíveis são os mais sussurrados possíveis.

A irmã caçula deixa o stand no seu final de expediente e de feira e se acaba num lanche reforçado antes de voltarem para casa. Já no carro, a irmã mais velha declara que seus pés estão doloridos, com vermelhidão e mesmo algumas pequenas bolhas. Ela não deveria ter tirado as botas na praça mais cedo. 
Atendendo ao pedido dessa irmã, param o carro em frente uma farmácia na saída da cidade e decidem comprar alguns adesivos curativos. 
Todo o glamour adquirido por osmose naquela feira se perde, quando  o irmão, nada discreto, de dentro da farmácia, em tom de brincadeira e leve maldade pergunta em alto e bom som: "Quantas bolhas são?????"

imagem: abacaxi chique!

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