quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

Conto solto - Filhos de Tarzan!

Seria mais um final de semana daquela grande turma de amigos sem muita programação se não fosse a ideia de um deles de ir para a roça. Essa era a forma de dizer que iam para o sítio (roça mesmo, chacrinha, casa de campo) de algum parente passar o final de semana. Uma ideia prática e muito barata para aquele grupo de quase durangos. Cada qual faz uma limpa em suas casas juntando o que cabia na mochila: roupa de dormir, short de banho, chinelão, uma blusa de frio, pacotes de macarrão instantâneo, toalha, escova de dente, cueca e meia, molho de tomate pronto, bolachas, até mandioca...algumas boas fitas cassetes com um vasto repertório de boa música.
Apertam-se nos poucos carros disponíveis ou mesmo em ônibus de linha que os deixariam próximos do local até serem apanhados numa segunda viagem. Chegam na noite de sexta, fazem um mutirão de limpeza na casa a fim de ventilar o local, trocar as roupas de cama com cheiro de guardada, matar possíveis bichos não difíceis de encontrar como aranhas e escorpiões, sapos e cobras ligarem a bomba e esperar a caixa d´água encher, separa alguma lenha para o fogão da varanda, esticarem as redes, preparar as mais diversas criações culinárias para aplacar a fome. Som alto, cada qual fazendo uma função, banho, hora da comida, alguma sobremesa fácil ou já pronta, hora do jogo com muita gritaria, palavrão e muita armação para não perder o embalo das brincadeiras. 
Momentos de papo sério com algum problema de ordem pessoal de um dos amigos, conselhos, uma caipirinha, som de violão na varanda sob o céu sem interferência de iluminação artificial, enrolados em cobertores e edredons, vagalumes, pios noturnos, sustos das mais medrosas com armações previamente montadas para esse fim.

De repente estão todos na varanda frontal dessa chácara, quando um dos colegas, disfarçadamente chama um a um dos rapazes com gestos discretos e ali arma uma pegadinha para os demais. A frente a chacrinha é toda cercada de mangueiras que se entrelaçam os galhos, com balanços e cordas penduradas para brincadeira da criançada. Cerca de 7 sete rapazes ficam nus, desligam o relógio central da casa, causando a escuridão total, sobem nas mangueiras e ficam ali balançando como babuínos de bunda branca fazendo algazarra. Já é começo de madrugada os comentários são os mais toscos possíveis. 
Quando, de repente, a luz se acende, pegando todos os filhotes de Tarzan desprevenidos e surge uma das amigas de dentro da casa com todas as roupas dos pobres homens macacos nas mãos. E agora? Como descer sob a luz e se vestir? Negociações absurdas são feitas ali entre o chão e as mangueiras. Uma engraçadinha dizia estar vendo uma manga bem suculenta pendurada e pede prá chuchar com bambu. Outra sugere jogar água e trigo. Outra disse que na casa tem espingardinha de sal e estilingue. Nunca descemos tão rápido e rasteiros de uma mangueira, de madrugada e com alguma cerveja, caipirinha ou todinho (batida de vinho tinto, leite condensado e abacaxi) na cabeça como naquele dia. Na descida o barulho de uma locomotiva que se aproxima da entrada da cidade ilumina mais ainda o local e parece que aquele apito foi proposital diante da cena vista pelo maquinista que acenava na curva. Voamos prá dentro da casa e vestimos o que encontramos pela frente para poder negociar a devolução de nossas roupas! 
A negociação foi longa e cheia de micos a serem pagos, mas conquistamos nossas roupas de volta. Rimos muito. Dormimos tarde naquela noite! 
No dia seguinte..................eu conto depois


*imagem: macaco cheiro

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