Nunca fui ligado em etiqueta, mas
já fiz questão roupas de marca, tênis da moda, celulares de última geração. Já
exigi isso de mim mesmo e com o tempo a gente aprende que isso é bobagem. Na
minha fase final de adolescência eu tinha uma correntinha de ouro. Tinha
voltado prá casa dos meus pais depois de passar um ano morando com meu irmão
numa cidade litorânea onde fiz e ainda mantenho alguns amigos. Foi uma boa
experiência viver um pouco mais desgarrado, de alguma forma, com uma liberdade
ampliada, porém vigiada, sabe-se, mas os tempos eram outros. Minha volta foi
marcada por alguma tristeza porque deixaria para trás amigos que partilhavam de
sonhos iguais, com quem dividi muitas experiências interessantes, sentimentos
muito fortes dessa faixa etária em que parece que todos os projetos darão
certo.
Depois de um bom tempo, resolvo ir passar um
final de semana em companhia desses amigos. Me programo todo. Me achava rico
com o pouco dinheiro que tinha. Pagaria a passagem ida e volta e alguns
pequenos prazeres em companhia desses amigos de lá. Fui. Curti. Na volta,
espremi os horários para aproveitar cada segundo do passeio na companhia deles.
Pego o ônibus na hora marcada, um dos últimos.
Teria que fazer uma baldeação (como se chamam as conexões) em uma cidade
intermediária e pegaria um outro ônibus que me deixaria a algumas poucas
quadras da minha casa. Chegaria no começo da madrugada, um pouco depois da
meia-noite. Claro que meus pais não gostaram da ideia. Numa época sem o
telefone celular para poder fazer contato com maior liberdade. Na subida da
serra, um pequeno acidente atrasa a subida em meia hora, tempo suficiente para
eu perder a conexão de volta prá casa.
Não desisti. Haveria outro ônibus que
fosse para o meu lado. Detalhe: grana contada. Cheguei no guichê e não haveria
mais ônibus para o meu destino. Pensei. Me informei de quais ônibus iriam
sentido São Paulo. Haveria um dali a uma hora em que eu poderia pagar um pouco
mais até Aparecida e eu poderia descer na entrada da minha cidade, ainda na
rodovia, caminhar um pouco mais e estaria em casa.
O preço da passagem era bem
maior do que eu tinha em mãos. Não hesitei e com receio de passar a noite ali
naquela rodoviária, ofereci o único bem maior que possuía ali: minha corrente
de ouro. Era fininha, bem leve, modelo simples, mas era o que eu tinha de mais
valor naquele momento. Nem passava pela minha cabeça pedir ajuda para parentes
daquela cidade naquela hora de domingo. Seria muito mico a pagar e eu saberia resolver
aquilo sozinho. Acho que nunca souberam desse episódio.
Fiz negócio com o cara do guichê. Troquei a correntinha pela passagem e ainda fiquei com o dinheiro que eu tinha para comer. Segurei firma naquele final de domingo até um pouco depois de Queluz e apaguei. Passava das 2h. Acordei no susto quando o ônibus parava nos 3 Garças, tinha perdido a entrada de Lorena por causa de 20 minutos de cochilo.
Resultado: Liguei para casa
do orelhão para dizer que já estava ali e o que aconteceu. Ouvi, já sabem!. Eu esperaria o primeiro
ônibus por volta das 5h para voltar prá casa. Nunca a hora passou tão devagar
quanto naquela madrugada. Eu olhava o relógio a cada meia hora e o ponteiro
andava apenas cinco minutos. Perdi tempo, a correntinha, perdi horas de sono e
fui trabalhar na segunda super cansado, quebrado. Porém, curti um longo e bom fim de
semana com os meus amigos da época.
*imagem: google imagens
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