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Há alguns dias tem um assunto que
tem sido corriqueiro com meus amigos. Quanto à qualidade das músicas atuais,
sempre que ouvimos alguma das boas músicas com mais de 20 anos. Não que seja um
comentário geral, pois ainda há poucas criações boas e de qualidade,
independente do gênero musical, mas é fato que a produção musical mundial
parece ter adotado um único estilo cansativo e impessoal.
Falo isso pela qualidade musical
dos bons tempos em que a música tinha letra, intérprete, uma boa cozinha,
solos trabalhados. Houve a época dos sintetizadores, das baterias eletrônicas,
das guitarras esgoelantes, das percussões, da mistura de estilos, das influências
e das descobertas de ritmos regionais que ganharam o mundo. Havia o protesto, a reivindicação, a fossa, o amor cantado, a filosofia, a palavra de ordem, o deboche, o amor baba ovo, o bate coxa, ritmos
dançantes, as modinhas, época de expoentes da música nacional e internacional.
Vou falar figurativamente: É como
se as tendências e estilos musicais fossem gelatinas coloridas de diferentes
sabores, misturada num grande recipiente, mas cada qual com sua proposta
particular. A popularização, a mistura, as novas tendências e o fruto das
misturas de muitos ritmos vieram como se fosse um creme para unir esses sabores
diferentes, com intuito de criar algo novo, de deixar tudo junto.
No início funcionou, mas parece
que o creme estava quente demais e acabou por derreter algumas gelatinas mais sensíveis
ou menos consistentes e misturou tudo, fazendo com que perdessem textura, sabor
e até mesmo a cor, e o excesso desse líquido fez o pote transbordar, deixando prá
trás um mix estranho, com uma cor indefinida, mistura de sabores, sem características
próprias. Não que tenha perdido o sabor original, afinal ainda é considerada
gelatina (música), mas não agrada a todos, tem quem coma por comer, quem coma em qualquer ocasião, tem quem não goste da aparência, tem quem não veja como
tornar esse produto pronto para servir, tem quem não goste da mistura de
sabores, tem quem ache que perdeu a graça e que ainda até esse momento não
houve um boom de imaginação e criatividade que pudesse transformar esse produto
em algo mais palatável, agradável ou mais original.
Acredito que o boom de
possibilidades surgidas nos anos 80 esteja longe de se repetir, quando o mundo
era um caldeirão de bandas, cantores, compositores, músicos, com qualidade de
letra, de música, de harmonia, de bons sons, feitos à mão, com pouca ajuda das
intervenções eletrônicas que, naquele momento, não substituíam o elemento
humano e que nunca terá a sensibilidade e criatividade suficiente para criar e
dar vida à emoção arrepiante que algumas canções causam.
Por isso vivemos um momento de
grande saudosismo, de revival, de resgate de músicas daquela época, mesmo com
suas regravações, releituras por artistas mais novos, mas que entendem a
necessidade de se perpetuar o grande estouro que houve nessa década. Claro que
ainda resistem e existem grandes figuras que criam como se bebessem da mesma
antiga fonte , mas estão ficando escassos. Até que um novo grande evento
aconteça, antes que a sobremesa acabe, antes que o mar suba, antes que o
meteoro se choque, antes que o ar fique rarefeito, antes que o agente dessa
criação se extinga.
Nos vemos, nos lemos e que
possamos curtir em alto e bom som!
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