Não! Eu não assisti toda a
entrega do Oscar. Domingo à noite! Segunda-feira batendo à porta e logo cedo pegando
no batente; mas vi alguma coisa até por volta da 0h30 (o que não é muito).
De um lado, o canal GNT fazendo a
festa do esquenta incluindo um “repórter” in loco no red carpet, gritando o nome
das celebridades em meio a muita afetação ensaiada e frases prontas, comentários
sobre o vestido de uma, os olhos arregalados pelas joias de outras, o certo e o
errado da moda, uma ou outra curiosidade sobre os atores e filmes além de
comentários sobre os bastidores do evento em relação aos não famosos (os que
não são vistos na frente das câmeras, mas que também concorrem ao prêmio de
iluminação, roteiro, figurino, mixagem, etc.) e também quanto os displicentes cartõezinhos
(cola) com os nomes destes rolando nas mãos dos staff de produção! Tudo em clima de descontração de sala de estar
capitaneada pela escolada Astrid Cabelo Rosa Fontenelle.
Já no E!, o mais famoso canal de
fofoca e futilidades da tv americana, uma bancada de “celebridades” (que não
conheço nenhuma) tagarelando sobre os mesmos comentários, com a vantagem de
estarem no local em um estúdio e poder levar um ou outro convidado muito pouco
conhecido para uma “entrevista”. Tudo isso envolto numa suruba de dublagem em
cima do som original mais os comentários por cima dessas dublagens. Tinha
momentos que mais parecia uma brincadeira do Casseta & Planeta (antigo
humorístico da tv quando zombava de enlatados dublados). Tudo sempre igual. Dia claro,
quarteirões interditados, um enorme tapete vermelho na entrada do teatro, uma
fila de repórteres e jornalistas caçando uma olhadela dos famosos, limusines, celebridades desfilando os mais
diversos estilistas de roupa, sapatos e joias, homens de preto em sua maioria e
alguns que parecem não ter tido tempo de pegar roupa e se vestiram com o que
restou do Natal, na dispersão de alguma escola de samba ou no guarda-roupa do
vizinho. Afinal, ali é uma vitrine mundial e tendências são lançadas propositalmente. Vai que cola!!
Dona Globo transmitiu com sua
tradução simultânea de praxe e seus convidados em estúdio. A participação da
Glória Pires virou meme nas redes sociais e motivo de chacota. A atriz parecia
não estar à vontade e chegou a afirmar que não tinha visto todos os filmes, causando
cenas de constrangimento ao vivo, olhadas dispersas nos monitores, olhares de
socorro para quem estava ao lado, coçando mãos e dedos, uma posição
desconfortável, comentários lacônicos e vagos. Uma atriz do porte dela não pode
ser exposta dessa forma, mas se foi chamada para tal, deveria ter feito a lição de
casa. Muito diferente quando da participação do falecido ator e diretor José Wilker,
reconhecidamente cinéfilo e conhecedor do assunto, assim como
Rubens Ewald Filho, o mais famoso comentarista do país nesse quesito.
O óbvio e planejado aconteceu.
Aliás, essa é a marca registrada da cerimônia de entrega do Oscar, uma festa milimetricamente marcada, onde até as
falas tidas como naturais são textos decorados, com marcação de cena, tempo de agradecimento dos premiados e tudo
mais. Pelas entrevistas, parecer haver uma eterna guerra de egos entre eles,
pois todos são lacônicos ou têm uma resposta tangencial ou uma crítica incisiva,
deixando os entrevistadores sem rumo, uns querendo ser melhores que os outros. Exceto pelo vi com a Whoopi Goldberg, que
parece entender toda essa trama hollywoodiana do evento e ficar à vontade no meio
das hienas.
O movimento feito anteriormente à
festa em relação à mínima ou quase nula participação de negros nessa edição foi
sufocada de alguma forma pela transmissão original. O Chile foi premiado e
creio que milhões de americanos correram no Google para localizar nosso irmão
sul americano, assim como a aposta do filme dinamarquês quanto à atriz
coadjuvante também se concretizou e , enfim, para alegria geral de milhões de
fãs, Leonardo di Caprio entrou para o hall dos melhores atores, depois de muita
experiência e crescimento adquiridos na telona. E não foi fácil!
Fica para o ano que vem as mesmas
expectativas criadas em torno desse evento onde filmes de muitos milhões de
dólares causam espanto pela tecnologia utilizada e novas formas
de direção, e criação. Países sem tradição no cinema concorrendo com
seus filmes, documentários ou curtas. Trilhas musicais especialmente compostas
sob encomenda, revelações coadjuvantes e surpresas técnicas, adaptações,
figurinos e locações estudadas minuciosamente, além do despertar de um novo pop
star diante de uma incrível atuação e transformação do artista, fazendo valer
sempre a pena estar diante de uma incrível história nas telonas. "The Oscar goes
to" nós mesmos que desfrutamos desses bons trabalhos.
Quanto à cerimônia, o modelo está
ultrapassado, mas daí cabe à Academia dar um jeito nisso!
Nos vemos, nos lemos!* imagem, invenção do autor
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