
Depois de um bom tempo, resolvo ir passar um
final de semana em companhia desses amigos. Me programo todo. Me achava rico
com o pouco dinheiro que tinha. Pagaria a passagem ida e volta e alguns
pequenos prazeres em companhia desses amigos de lá. Fui. Curti. Na volta,
espremi os horários para aproveitar cada segundo do passeio na companhia deles.
Pego o ônibus na hora marcada, um dos últimos.
Teria que fazer uma baldeação (como se chamam as conexões) em uma cidade
intermediária e pegaria um outro ônibus que me deixaria a algumas poucas
quadras da minha casa. Chegaria no começo da madrugada, um pouco depois da
meia-noite. Claro que meus pais não gostaram da ideia. Numa época sem o
telefone celular para poder fazer contato com maior liberdade. Na subida da
serra, um pequeno acidente atrasa a subida em meia hora, tempo suficiente para
eu perder a conexão de volta prá casa.
Não desisti. Haveria outro ônibus que
fosse para o meu lado. Detalhe: grana contada. Cheguei no guichê e não haveria
mais ônibus para o meu destino. Pensei. Me informei de quais ônibus iriam
sentido São Paulo. Haveria um dali a uma hora em que eu poderia pagar um pouco
mais até Aparecida e eu poderia descer na entrada da minha cidade, ainda na
rodovia, caminhar um pouco mais e estaria em casa.
O preço da passagem era bem
maior do que eu tinha em mãos. Não hesitei e com receio de passar a noite ali
naquela rodoviária, ofereci o único bem maior que possuía ali: minha corrente
de ouro. Era fininha, bem leve, modelo simples, mas era o que eu tinha de mais
valor naquele momento. Nem passava pela minha cabeça pedir ajuda para parentes
daquela cidade naquela hora de domingo. Seria muito mico a pagar e eu saberia resolver
aquilo sozinho. Acho que nunca souberam desse episódio.
Fiz negócio com o cara do guichê. Troquei a correntinha pela passagem e ainda fiquei com o dinheiro que eu tinha para comer. Segurei firma naquele final de domingo até um pouco depois de Queluz e apaguei. Passava das 2h. Acordei no susto quando o ônibus parava nos 3 Garças, tinha perdido a entrada de Lorena por causa de 20 minutos de cochilo.
Resultado: Liguei para casa
do orelhão para dizer que já estava ali e o que aconteceu. Ouvi, já sabem!. Eu esperaria o primeiro
ônibus por volta das 5h para voltar prá casa. Nunca a hora passou tão devagar
quanto naquela madrugada. Eu olhava o relógio a cada meia hora e o ponteiro
andava apenas cinco minutos. Perdi tempo, a correntinha, perdi horas de sono e
fui trabalhar na segunda super cansado, quebrado. Porém, curti um longo e bom fim de
semana com os meus amigos da época.
*imagem: google imagens