Andar por
aí com um destino pré-traçado e aberto às boas surpresas do caminho. Muito bom
de se fazer! As férias
estão aí prá isso. Espero que todos que trabalham gozem saudavelmente de suas
férias, viajando para perto ou longe, ficando e resolvendo boas coisas de
casa, cuidando de filhos, família, se permitindo a mais tempo, dormir mais,
fugir da programação do relógio do dia-a-dia.
Resolvi
pegar estrada! Destino: alguns locais novos e outros de revisita. Locais
dentro de um limite de distância. Deus, eu, meu carro e boa música. Revi
amigos, parentes, revisitei locais, conheci novos lugares de cidades já conhecidas,
conheci o desconhecido, calculei tempo, condição de tempo e rodovia, melhor
rota, o que ver pelo caminho. Vi muito chão, céu, estrada, montanha, mar, muita
gente, ouvi vários sotaques, dormi bem, acordei disposto, andei sentido norte,
sul, leste e oeste. São Paulo, Rio e Minas.
Cenários
de muita beleza sob o sol, sob as nuvens, sob chuva, neblina, calor, frio e
vento. Mergulhos em lindas e transparentes águas frias e outras geladas.
Me deixei
envolver pela atmosfera colonial de um Brasil deixado no tempo, suas ruínas, becos,
história preservada, vi cenários de transição de vegetação, vi o mar da terra,
a terra do mar, vi do alto, de baixo, nascentes e poentes, vi registros de
antepassados, senti muitos perfumes, o cheiro de cada lugar que, de certa
forma, ficaram como registro olfativo em minha memória. Isso é meu e ninguém
mais tira! Mais uma vez se tem a noção da imensidão de um país plural, ainda que
rodando em um circuito, mesmo que pequeno, diante da imensidão continental
desse Brasil. Somos muitos, somos ricos e nem percebemos. Curioso ver nesses
locais pequenos registros vivos de seu dna, de sua história, daquilo que dá
orgulho e de onde se extrai o trabalho. Curioso ouvir versões distintas dos
mesmos lugares sob aspectos e visões diferentes de estrangeiros e nativos.
Perceptível. Curioso rodar em rodovias sem cruzar uma alma viva por quilômetros
e quilômetros até desembocar no ritmo frenético de uma BR, em uma cidade maior.
Boa
comida sempre, artesanato local e as boutiques franqueadas de artesanatos em
geral destoando do original, porém gerando trabalho. Visão de locais que, se
não tomarem cuidado, acabarão sendo engolidos por condomínios, pelo crescimento
desordenado, tirando a paz, a beleza e o charme natural.
Montanhas
que viram pessoas, animais, formas curiosas, que se desdobram, que se abrem em
túneis, que se debruçam abruptamente vale abaixo, que escarpam suas rochas, que
arredondam seus cumes, que se deixam lamber pelo nevoeiro das altas encostas
beira mar, que estouram em muitos tons de verdes salpicados de ipês roxos e
amarelos e tantas outras espécies (por mim) desconhecidas. Vez ou outra riscada
pela espuma branca da cachoeira que despenca. Me lembrou a música da Tetê
Espíndola que diz: “....em
toda mata um cochicho em CH, chuá, chuá na
queda d´água, me sinto livre, nada me falta ...”.
Montanhas
que, já velhas, descansam sua rugosidade a perder de vista como uma onda
congelada de pedra e mato. Maritacas,
seriemas e tucanos cruzam os céus e caminhos. Cidadãos em suas bicicletas. Charretes
nas ruas de pedra e estradas de terra, trens, revoada das garças no fim de
tarde, burricos que mastigam o capim seco sem pressa encostados nos
mourões. Vacas e bois que desafiam a gravidade pastando em morros
íngremes.
Flores
desconhecidas que tingem a beira da estrada. Pássaros rasantes e borboletas
fosforescentes que não se deixam registrar. Pedras áridas e encostas esculpidas
pela erosão, pelo tempo e o vento, rios e cachoeiras de água geladas de inverno
que sonorizam o ambiente, que atraem. Estradas
longas, curtas, curvas, íngremes, retas que tangem colinas, pedágios, postos,
policia rodoviária, velocidade controlada, placas de limite de velocidade que
variam de 80 para 40, 60 e 50, vai entender? Placas engraçadas, lugarejos com
nomes estranhos. Se Retorno fosse cidade teria uma entrada em cada lugar.
Estrada interrompidas por estranhas pontes estreitas de uma só pista, por
caminhões pesados, por queda de pedras das encostas, por fumaça de fogueiras,
por hordas de motoqueiros de preto e suas máquinas Harley Davidson. Pare,
olhe, escute! Estradas que fazem andar e andar e andar. Em linha reta
e outras nem tanto, que saem e voltam para o mesmo lugar. Daí as férias acabam, depois de 1380 km rodados!
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