quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

Mais um Carnaval

Vieram as marchinhas, axés, sambas de enredo, paixão por escola, blocos de animação, desfiles. Alguns enredos repetidos, outros aprimorados, uns nunca antes trabalhados, polêmicas, vedetismo, muito, muito, muito beijo na boca, câmeras tão indiscretas quanto os minis tapa sexos usados. Apesar de que, acho, que teve menos peladões e peladonas dessa vez.

As duas principais capitais do País dividindo “democraticamente” (ou seria mercadologicamente?) os dias de desfile e foco nacional e até mesmo internacional, afinal, trata-se da maior festa popular do mundo.

A tão ausente chuva deu as caras e ficou e brincou todos os dias de Momo trazendo um pouco de água para refrescar os foliões, lavar as ruas e até mesmo um pequeníssimo alívio para algumas represas. Mas a cena principal, no que diz respeito a desfile de escolas de samba, ainda é o Rio de Janeiro. 
Mais de 70 mil expectadores concentrados na estreita Marques de Sapucaí, entre o Catumbi e a Presidente Vargas, zona central do Rio, região muito pouco explorada por turistas nos dias comuns. Uma organização caótica que faz acontecer a grande festa do desfile das escolas do grupo especial... e seus problemas de sempre.... Carros que entalam, que se aquecem e soltam fumaças, gruas que emperram, chuva que desmorona as pesadas roupas, pessoas que desmaiam de calor, que torcem o pé, que se queimam, que se cortam, que fazem muita força, que quase explodem de tanta tensão e que dividem espaço com muita criatividade, graça, cores, formas, corpos, tecnologia, neons, articulações parintinescas, máscaras, leds e drones. 

Uma águia redentora que se curva prá não entalar na passarela, paraquedistas que surgem do céu escuro, livros que viram camas bem animadas de motel, personagens de histórias em quadrinhos e da história real, enredos patrocinados rodeados de polêmicas, cheiro de comida e perfume no ar, homenagens, trens, carros, discos voadores, animais, tribos, florestas, cascatas, ilusão de ótica, passistas e madrinhas, beldades, ilustres desconhecidos, Dona Zuleica, Seu Alaor, Teco, Bolão, Preto e muita gente do país do samba e seus minutos de fama nacional. Internacionalização do enredo, artifícios cinematográficos (será que um dia as baianas serão todas Carmem Miranda, “legítimas baianas brasileiras”?).
Ritmos e cadências aceleradas dos sambas, quadris freneticamente soltos; haja fôlego!  A polêmica do enredo, é bullying? Racismo? Preconceito? Duplo sentido? Sátira à sátira e ao nosso modo de vida e de pensar, algumas vezes apresentados ironicamente cruéis. Que que é isso meu povo? Um ritual que se repete em muitas cidades do interior e outras capitais, cada qual com seu tempero, com sua criatividade e orçamento.
Daí vem o sono atrasado, a ressaca, o bloco do rescaldo, a lentidão, a desaceleração, a nota 10, o rebaixamento, as cinzas, a quarta, a normalidade, o fim do horário de verão e do fervido fevereiro, até que o ano se complete e volta tudo pra concentração!

Nos vemos, nos lemos!


Esse texto foi escrito antes do resultado do desfile que gerou muito comentário, principalmente em relação ao primeiro lugar da Beijar Flor, que "homenageou" um país africano, que teria patrocinado parte do desfile; país esse governado há mais de 30 anos por um líder considerado ditador e que tem fortes indícios de não respeitar os direitos humanos. Quanto a outros comentários oriundos desse resultado eu não comentar, pois nem tudo é flor e nem tudo se deve cheirar.




*foto: Do autor, no momento em que a Águia Redentora da Portela (Carnaval 2015 - 5º lugar  ?!?!,) se curva no desfile para não bater na passarela, obra mas mais perfeita engenharia hidráulica.