terça-feira, 7 de março de 2017

Fora do tom!

imagens Google free pic - montagem do autor
Há alguns dias tem um assunto que tem sido corriqueiro com meus amigos. Quanto à qualidade das músicas atuais, sempre que ouvimos alguma das boas músicas com mais de 20 anos. Não que seja um comentário geral, pois ainda há poucas criações boas e de qualidade, independente do gênero musical, mas é fato que a produção musical mundial parece ter adotado um único estilo cansativo e impessoal.
Falo isso pela qualidade musical dos bons tempos em que a música tinha letra, intérprete, uma boa cozinha, solos trabalhados. Houve a época dos sintetizadores, das baterias eletrônicas, das guitarras esgoelantes, das percussões, da mistura de estilos, das influências e das descobertas de ritmos regionais que ganharam o mundo. Havia o protesto, a reivindicação, a fossa, o amor cantado, a filosofia, a palavra de ordem, o deboche, o amor baba ovo, o bate coxa, ritmos dançantes, as modinhas, época de expoentes da música nacional e internacional.
Vou falar figurativamente: É como se as tendências e estilos musicais fossem gelatinas coloridas de diferentes sabores, misturada num grande recipiente, mas cada qual com sua proposta particular. A popularização, a mistura, as novas tendências e o fruto das misturas de muitos ritmos vieram como se fosse um creme para unir esses sabores diferentes, com intuito de criar algo novo, de deixar tudo junto.
No início funcionou, mas parece que o creme estava quente demais e acabou por derreter algumas gelatinas mais sensíveis ou menos consistentes e misturou tudo, fazendo com que perdessem textura, sabor e até mesmo a cor, e o excesso desse líquido fez o pote transbordar, deixando prá trás um mix estranho, com uma cor  indefinida, mistura de sabores, sem características próprias. Não que tenha perdido o sabor original, afinal ainda é considerada gelatina (música), mas não agrada a todos, tem quem coma por comer, quem coma em qualquer ocasião, tem quem não goste da aparência, tem quem não veja como tornar esse produto pronto para servir, tem quem não goste da mistura de sabores, tem quem ache que perdeu a graça e que ainda até esse momento não houve um boom de imaginação e criatividade que pudesse transformar esse produto em algo mais palatável, agradável ou mais original.
Acredito que o boom de possibilidades surgidas nos anos 80 esteja longe de se repetir, quando o mundo era um caldeirão de bandas, cantores, compositores, músicos, com qualidade de letra, de música, de harmonia, de bons sons, feitos à mão, com pouca ajuda das intervenções eletrônicas que, naquele momento, não substituíam o elemento humano e que nunca terá a sensibilidade e criatividade suficiente para criar e dar vida à emoção arrepiante que algumas canções causam.
Por isso vivemos um momento de grande saudosismo, de revival, de resgate de músicas daquela época, mesmo com suas regravações, releituras por artistas mais novos, mas que entendem a necessidade de se perpetuar o grande estouro que houve nessa década. Claro que ainda resistem e existem grandes figuras que criam como se bebessem da mesma antiga fonte , mas estão ficando escassos. Até que um novo grande evento aconteça, antes que a sobremesa acabe, antes que o mar suba, antes que o meteoro se choque, antes que o ar fique rarefeito, antes que o agente dessa criação se extinga.

Nos vemos, nos lemos e que possamos curtir em alto e bom som!