segunda-feira, 24 de outubro de 2016

Leréias, sô!

Valdomiro Silveira (1873/1941) 
Cartaz peça "Leréias" com Jandir Ferrari, música de Antônio Porto e Direção 
de Caio de Andrade
Creio que a maior riqueza de uma obra seja a tradução da simplicidade. De dizer a coisa certa sem meias palavras e ir direto ao ponto, nua e cruamente, sem rodeios. Colocar sentimentos num papel para deixá-los eternos, interpretados, cantados ou rimados não é tarefa fácil. Requer a lapidação de um dom, requer tempo e estudo. Um processo de tempo que é engolido pela correria cotidiana e que nos faz ignorar por completo quem se dedica a essa tarefa.
Valdomiro Silveira é um desses escritores que usou seu tempo de vida na observação do Homem caipira, na sua forma de falar, sua forma de interagir com a natureza e com as fronteiras do seu mundo visível, com os sentimentos que ocupavam a cabeça e o faziam pensar durante sua lida diária, com o trabalho pesado do homem da roça.
Nascido em Cachoeira Paulista, criado em Casa Branca, todas no interior de São Paulo, terra dos caipiras e suas peculiaridades. Suas observações no modo de vida, na fala, nos costumes, despertaram nele o curioso trabalho de transcrever as ações dessas pessoas simples.  Simples sem ser ingênuo, bobo ou preguiçoso. Simples na maneira de não fazer firulas para se dizer o que se sente, muitas vezes comparando seus atos com os animais da natureza que faziam parte do cenário natural a que pertencia. Filosoficamente simples na busca da eterna resposta do Homem, de saber quem se é, para onde se vai, onde se encontra.
O escritor cresceu, formou-se advogado, depois foi promotor público, deputado, secretário de educação do estado de São Paulo e jornalista. Um homem das letras, de suas observações que nunca abandonaram o homem simples da sua origem, o matuto, o caipira da sua raiz e sua linguagem. Sua obra o aproxima de Guimarães Rosa, que também descreve a vida do homem que não habita a cidade.
Os contos de Valdomiro, abordando os costumes e tradições desse povo, muito contribuíram para o folclore brasileiro. Revisitado em sua obra póstuma, "Leréias", foi levada ao palco mesclando no cenário a simplicidade do homem caipira e o essencial para existir com a riqueza de suas falas, de seus pensamentos, a graça da simplicidade, a suavidade da música pontuada pelo violão caipira. 
Leréias mostra que o Homem é o mesmo em qualquer lugar sobre a face da Terra, com seus medos, coragem, culpa, anseios, desejos, frustrações, raiva e todos os outros sentimentos inerentes ao ser humano, porém falado em outro "idioma", com outras referências ricas e que nos pertencem!
Uma peça que vale a pena conferir! Que nada tem de lorota, pode acreditar!
Nos vemos, nos lemos!