sexta-feira, 6 de maio de 2016

Transformação!



Curioso e triste pensar e ver resultados nada positivos de pessoas que têm a síndrome de mudar o próprio corpo. Cada vez mais é veiculado nas redes a foto de quem se deu bem e que se deu muito mal com transformações, a princípio, normais. Não falo aqui das pessoas que buscam recursos para cura de deformidades congênitas, acidentais ou outras correções para melhoria da saúde.

Falo de transformações com intuito de buscar uma dita perfeição, quando se perde a mão e chegam a resultados fantasmagóricos. Os canais de tv não escondem seus programas de auditório com a presença de cirurgiões plásticos de toda estirpe falando ora bem, ora mal desse ou daquele procedimento. Há também os reallities shows em que as pessoas se expõem viceralmente na disputa em busca dessa perfeição. Lançamentos de produtos e procedimentos, dietas milagrosas e remédios disfarçados de suprimentos que prometem mudanças para quem os consome são quase que diários. Parece não haver noção do risco.

Desde relatos da aplicação de silicone automotivo ou industrial até os dias de hoje em que um dos terrores se chama hidrogel, que já deixou suas vítimas marcadas, o bisturi parece ser coisa do passado. Além do botox que paralisa as feições das pessoas, recursos como congelamento de gordura, laser, ácidos, massagens, cápsulas que absorvem a gordura ingerida dos alimentos e as retiram do corpo para não serem absorvidas e muito mais, além de automedicação, entre tantos outros são veiculados livremente vendendo uma imagem de perfeição. Qual o parâmetro de perfeição adotado? 
Corpos engradecidos exageradamente pelo uso indiscriminado de anabolizantes, suplementos miraculosos, redutores, queimadores, transformadores associados à dietas pouco convincentes, consumo de proteínas, vitaminas e outro material sintético , narizes afinalados deixando as pessoas com vozes estranhas, cinturas finas com a retirada de costelas, quadril gigante sustentado por silicone ou gel, bíceps, tríceps e abdomes criados por costuras de músculos e lipoaspiração. Homens e mulheres bonecos, rostos frios, sem expressão, pessoas que perderam a identidade devido aos desastres de resultados. Até mesmo aqueles que se vangloriam de excelentes resultados, reaparecem para corrigir problemas mais sérios. Dias desses vi um homem agonizando numa maca enquanto seu bíceps colossal e disforme, todo rasgado, vertia um líquido que parecia ser uma mistura de fluídos, gel, pus e sabe mais lá o que. Outro dia vi uma esteticista falando maravilhas de procedimentos, mas o rosto dela não se mexia. Testa, canto da boca, parte superior dos lábios mal deixavam a mulher falar direito, parecia anestesiada. O famoso bico de pato. Recentemente falou-se muito de uma bactéria que estaria comendo o nariz de um jovem que tinha feito nada menos que 7 cirurgias no nariz para ter um rosto parecido com um boneco que representa a eterna juventude. Jovens que preenchem seus lábios com quantidades enormes de produtos para deixá-los “sensuais”. Uma identificação com quem está na mídia e ostenta a quantidade de cirurgias e intervenções feitas como se fossem troféus. O risco e o relato de infecções, de choque anafiláticos que já levaram muita gente embora, clínicas que não são legalizadas para procedimentos cirúrgicos, cirurgiões que vislumbram o lucro sem se importar, pelo menos aparentemente, pela saúde humana são inúmeras. Acidentes de percurso, resultados errados que levam a novas cirurgias de correção passam a ser corriqueiros. Pessoas muito jovens recorrendo a esses milagres para alcançar um corpo mais harmônico e sem defeito. Não seria essa busca incessante da perfeição um defeito, um desvio? 
Vivemos uma crise de identidade onde o médico e o monstro se digladiam!
Nos vemos e nos lemos!


* imagem: cartaz Dr Hecyll e Mr Hyde (o médico e o monstro)

Intolerância

Não acho fácil falar da intolerância nos dias de hoje. Falar de algo que requer uma pausa para pensar em tempos de ânimos exacerbados, atitudes rápidas, revides impensados, por vezes insanos, que desmoronam todo e qualquer “castelo” de ponderamento, que jogam esgoto abaixo toda uma estrutura emocional e racional do indivíduo, seja ele quem for. 
Em pleno século XXI, era das facilidades da tecnologia e das comunicações rápidas, parece não haver uma rédea mais forte que segure uma horda de seres não pensantes, que de forma alienada e impensada reagem intolerantemente às ditas normas sociais políticas, comportamentais, religiosas, etc.. Pode-se até fazer uma alusão a zumbis, dominados por fontes irreais de veracidade que alimentam toda uma onda, diria um tsunami, de ações, gerando ódio, raiva e medo em escala geométrica.
A intolerância já é uma inabilidade humana de lidar com o diferente, de entender e respeitar posturas e posições divergentes das suas. E vivemos num mundo plural, onde cada indivíduo carrega consigo um leque de opiniões próprias de todos os assuntos que o permeiam e que fazem parte de nossas vidas, de forma direta e indireta. Os grupos iguais se atraem por uma conexão de ideais e expectativas comuns e ações que as promovem e, mesmo assim, não são formados de pensamentos únicos. Sempre há um senão, um porquê, mas a comunhão e direcionamento dos mesmos propósitos formam a característica de cada um desses grupos. E os grupos são muitos e podem ser antagônicos, simpatizantes, semelhantes. São pensamentos mutáveis, pois a inteligência humana, dentro de sua escala natural de evolução, aliada ao amadurecimento de ideias e sob influência das transformações naturais concorrem para que um dito grupo de pensadores iguais se fortaleça, se dissipe, cresça ou se finda, pois o olhar individual de cada um de seus membros tende a adotar outras maneiras de pensar sobre o mesmo ponto de vista e isso se torna uma ação cíclica.
Mudar de ideia, de opinião não é vergonhoso, não é sinal de fraqueza, é uma adequação às novas regras que a própria vida impõe ou que seja transformada nesse novo pensar. Sair da redoma da vaidade e do narcisismo e enxergar na opinião do outro, formas distintas de pensar, respeitando todos os ponto de vista que visam o mesmo objetivo.
Ouvir opiniões é sempre enriquecedor, posso dizer que o mesmo fiz ao escrever sobre isso e compartilhar com minha colega psicóloga Dra. Renata Barros, que expôs algumas situações que transcrevo aqui.
O questionamento é válido e é eterno, desde os primórdios para se entender quem sou, de onde vim e outros tantos que formam o pensar humano. Esses exercícios nos tornam hábeis, capazes de provocar uma mudança e de aceitar as novas. Tolerância traz consigo a flexibilidade.

Por outro lado, há quem se acomode em determinadas situações e qualquer mudança que venha em seu sentido e que o tire dessa zona de conforto (ou preguiça) pode provocar reações adversas. Essa acomodação, se for no modo de pensar, permite que outros membros manipulem direta ou indiretamente suas ações. Pessoas são diferentes e há uma natural disputa nos grupos humanos, instintiva, de prevalecimento de uns sobre os outros, seja pelo poder de convencimento e argumentos, pela força física, pela imposição, pelas atitudes e há quem se aproveite dessa situação favorável de estar à frente de determinadas pessoas pela junção de conhecimentos e que sem qualquer ética manipula os ditos inferiores. Criam-se monstros! Numa sociedade ávida por mudanças rápidas e melhoria de vida, o conhecimento se faz necessário para não se deixar ser dominado por outros grupos. Porém a preguiça (zona de conforto) não alimenta o discernimento. E isso também é cíclico! enraíza, contamina, corrompe e destrói. É quando a cobra começa a comer o próprio rabo!
Nos vemos, nos lemos!

*imagem; Google free pic!