terça-feira, 7 de julho de 2015

Andar com fé...




Andar por aí com um destino pré-traçado e aberto às boas surpresas do caminho. Muito bom de se fazer!  As férias estão aí prá isso. Espero que todos que trabalham gozem saudavelmente de suas férias, viajando para perto ou longe, ficando e resolvendo boas coisas de casa, cuidando de filhos, família, se permitindo a mais tempo, dormir mais, fugir da programação do relógio do dia-a-dia.

Resolvi pegar estrada! Destino: alguns locais novos e outros de revisita. Locais dentro de um limite de distância. Deus, eu, meu carro e boa música. Revi amigos, parentes, revisitei locais, conheci novos lugares de cidades já conhecidas, conheci o desconhecido, calculei tempo, condição de tempo e rodovia, melhor rota, o que ver pelo caminho. Vi muito chão, céu, estrada, montanha, mar, muita gente, ouvi vários sotaques, dormi bem, acordei disposto, andei sentido norte, sul, leste e oeste. São Paulo, Rio e Minas. 
Cenários de muita beleza sob o sol, sob as nuvens, sob chuva, neblina, calor, frio e vento. Mergulhos em lindas e transparentes águas frias e outras geladas.
Me deixei envolver pela atmosfera colonial de um Brasil deixado no tempo, suas ruínas, becos, história preservada, vi cenários de transição de vegetação, vi o mar da terra, a terra do mar, vi do alto, de baixo, nascentes e poentes, vi registros de antepassados, senti muitos perfumes, o cheiro de cada lugar que, de certa forma, ficaram como registro olfativo em minha memória. Isso é meu e ninguém mais tira! Mais uma vez se tem a noção da imensidão de um país plural, ainda que rodando em um circuito, mesmo que pequeno, diante da imensidão continental desse Brasil. Somos muitos, somos ricos e nem percebemos. Curioso ver nesses locais pequenos registros vivos de seu dna, de sua história, daquilo que dá orgulho e de onde se extrai o trabalho. Curioso ouvir versões distintas dos mesmos lugares sob aspectos e visões diferentes de estrangeiros e nativos. Perceptível. Curioso rodar em rodovias sem cruzar uma alma viva por quilômetros e quilômetros até desembocar no ritmo frenético de uma BR, em uma cidade maior.
Boa comida sempre, artesanato local e as boutiques franqueadas de artesanatos em geral destoando do original, porém gerando trabalho. Visão de locais que, se não tomarem cuidado, acabarão sendo engolidos por condomínios, pelo crescimento desordenado, tirando a paz, a beleza e o charme natural.
Montanhas que viram pessoas, animais, formas curiosas, que se desdobram, que se abrem em túneis, que se debruçam abruptamente vale abaixo, que escarpam suas rochas, que arredondam seus cumes, que se deixam lamber pelo nevoeiro das altas encostas beira mar, que estouram em muitos tons de verdes salpicados de ipês roxos e amarelos e tantas outras espécies (por mim) desconhecidas. Vez ou outra riscada pela espuma branca da cachoeira que despenca. Me lembrou a música da Tetê Espíndola que diz: “....em toda mata um cochicho em CH, chuá, chuá  na queda d´água, me sinto livre, nada me falta ...”.

Montanhas que, já velhas, descansam sua rugosidade a perder de vista como uma onda congelada de pedra e mato. Maritacas, seriemas e tucanos cruzam os céus e caminhos. Cidadãos em suas bicicletas. Charretes nas ruas de pedra e estradas de terra, trens, revoada das garças no fim de tarde, burricos que mastigam o capim seco sem pressa encostados nos mourões. Vacas e bois que desafiam a gravidade pastando em morros íngremes.
Flores desconhecidas que tingem a beira da estrada. Pássaros rasantes e borboletas fosforescentes que não se deixam registrar. Pedras áridas e encostas esculpidas pela erosão, pelo tempo e o vento, rios e cachoeiras de água geladas de inverno que sonorizam o ambiente, que atraem.  Estradas longas, curtas, curvas, íngremes, retas que tangem colinas, pedágios, postos, policia rodoviária, velocidade controlada, placas de limite de velocidade que variam de 80 para 40, 60 e 50, vai entender? Placas engraçadas, lugarejos com nomes estranhos. Se Retorno fosse cidade teria uma entrada em cada lugar. Estrada interrompidas por estranhas pontes estreitas de uma só pista, por caminhões pesados, por queda de pedras das encostas, por fumaça de fogueiras, por hordas de motoqueiros de preto e suas máquinas Harley Davidson. Pare, olhe, escute! Estradas que fazem andar e andar e andar. Em linha reta e outras nem tanto, que saem e voltam para o mesmo lugar. Daí as férias acabam, depois de 1380 km rodados!


Nos vemos, nos lemos!







* fotos do autor