terça-feira, 22 de setembro de 2015

"American uei ov laif"

Não conheço e não posso falar da legislação norte-americana, mas curioso como certas coisas acontecem no país do Tio Sam.  Essa semana, um garoto de apenas 14 anos, negro com nome muçulmano, Ahmed Mohamed, foi preso por policiais porque uma professora achou que o relógio que ele havia criado se parecia com uma bomba. O garoto, fissurado por tecnologia, levou sua criação para mostrar a um professor.
Alguns episódios de ataques em escolas norte-americanas não são novidades, infelizmente. Notícias de tiroteios e massacres volta e meia dão as caras nos noticiários. Creio que isso faça aumentar o pesadelo coletivo do povo norte-americano de possíveis episódios de violência desembestada em ambientes escolares, ainda mais com uma suspeita caindo sobre uma pessoa da raça negra e com nome muçulmano. O sistema funcionou , pois a polícia atendeu ao chamado de uma professora desorientada. Penso ter havido excesso em algemar, prender e interrogar o menino. A polícia não foi capaz de identificar que tal invento era apenas um relógio e não uma bomba? E a professora ? Acionou a polícia para algo que não procedia, e fica por isso mesmo? Se o menino fosse branco ou não tivesse nome muçulmano teria sido abordado da mesma forma? Lá não são todos iguais perante à lei como eles mesmo vendem sua imagem? Cadê o Human Rights Watch?
No mesmo dia, o presidente, Sr Barack Hussein Obama, também negro, filho de um queniano com uma norte-americana,  ficou sensibilizado e convidou o aluno a levar sua criação até a Casa Branca e, dessa forma, estimular o interesse de jovens daquele país pelas ciências, uma atitude positiva em acolher o jovem após tamanha frustração e desgosto sofridos na escola da cidade de Irving, no Texas. O fundador do Facebook, Mark Zuckerberg, também convidou o garoto a conhecer as instalações da maior rede social de todos os tempos e Ahmed ganhou do CEO da Microsoft, presentes criados pela grande empresa de Redmond para dar maior incentivo aos  estudos de Ciência e Tecnologia. São aparelhos e gadgets de ponta, incluindo novíssimas versões de suas invenções e até uma impressora 3D.
Por um lado, as grandes empresas de tecnologia e homens de visão entenderam a problemática e contornaram a situação com gestos mais humanos enaltecendo e positivando a ação do jovem aluno. De outro, cidadãos comuns, vulneráveis e preconceituosos, ainda sob impacto das grandes tragédias vividas, promovem constrangimentos em escala mundial expondo um pré-adolescente ao dissabor de ser achincalhado na escola de sua cidade, demais localidades em seu próprio pais e no restante do mundo.
Existem situações em que o excesso de zelo causa danos irreparáveis, traumas que duram uma vida inteira. Os próprios americanos já sofreram diretamente na pele com reações de alguns filhos seus, traumatizados pelos eventos de muitas das guerras em que participaram ou de situações de alto stress em que não tiveram a possibilidade de administrá-los, explodindo - literalmente às vezes - de maneira abrupta e causando danos às pessoas ao redor, inclusive em ambiente escolar. Isso mostra que o mundo vive sobressaltado, com medo, onde a opressão é uma forma de manter a tranquilidade. Que o jovem Ahmed possa despontar como um grande cientista, tecnólogo ou inventor, que possa se tornar o homem de bem que mostrou ser ao tentar, ingenuamente, levar sua invenção para a escola e apresentá-la ao professor. Que a escola, a professora desorientada e os demais alunos aprendam a lidar com aqueles que julgam ser diferentes, quando a única diferença mostrada foi o bom uso da inteligência de um menino, pré-adolescente, no meio de tantos outros vulneráveis, preconceituosos e desprovidos de bom senso!



*Imagem: american pie - ilustração do autor